As crianças têm de estar mais tempo com os pais

O alerta surge do pediatra Paulo Oom que não hesita em afirmar que, os pais dedicam pouco tempo aos filhos.

“O mais grave é que aprenderam a desculpar-se com a ideia de que o pouco tempo que dedicam aos filhos é de qualidade”. Na posição deste especialista que lançou recentemente um livro onde alerta os pais para esta realidade, “na maior parte das vezes, esse tempo que os pais dizem ser ‘de qualidade’, é tão pouco que nem merece um significado para a criança.”

 

É evidente que os pais têm a sua vida, “mas o problema da falta de tempo é só um: colocar os filhos como prioridade. Depois, tudo se desenrola naturalmente. Os pais têm direito ao seu tempo livre, o dever de trabalhar, mas os filhos não podem ficar sistematicamente em segundo plano na ordem de prioridades. É disso que se fala em tempo de qualidade: estar com os filhos. Brincar, conversar, passear, desfrutar de momentos em conjunto que são essenciais para a felicidade de todos.”

 

No seu livro, “Filhos mais felizes”, Paulo Oom realça a importância de estar mais tempo em família. “As crianças de hoje passam demasiado tempo em frente aos ecrãs, sobretudo numa fase altamente decisiva como é a infância e posteriormente a adolescência. Não resta muito tempo para as relações familiares que são essenciais ao desenvolvimento.”

 

Para este especialista a regra é “colocar o ecrã onde todos possam ver ao mesmo tempo e conversar sobre o assunto em família.” Paulo Oom reforça a importância das regras que são “mesmo para ser cumpridas. As regras são as bases para tudo na vida e precisam de fazer parte do nosso quotidiano. As horas das refeições são para cumprir, os horários de sono são essenciais, a higiene, o horário escolar e tudo o que não é negociável porque faz parte da rotina, porque é indispensável ao desenvolvimento e à própria felicidade.”

 

As crianças são seguras e felizes com limites. “Não há crianças que façam tudo o que lhes apetece e que consigam ser felizes”, alerta o mesmo pediatra.

 

“As regras fazem parte do nosso quotidiano e são a base para nos organizar-nos no mundo. Dão-nos segurança, tranquilidade e tempo para fazermos as mais diversas atividades.”

 

Paulo Oom enfatiza a importância de permitir que as crianças sejam responsáveis. “Tudo começa com os trabalhos de casa. A criança não pode estar à espera que os pais lhe façam os deveres, tal como os pais não podem, de forma alguma ajudar os filhos, pois todo o trabalho e esforço da criança se perde facilmente.

 

Os pais vigiam a letra, se a criança tem condições no seu quarto para poder estudar confortavelmente, se está em silêncio e motivada. Cabe aos filhos a realização das tarefas. No final, os pais podem dar uma olhadela, mas não corrigir os trabalhos, pois essa é a função dos professores.”

 

Sendo o trabalho de casa uma oportunidade para a criança melhorar uma matéria que pode não ter ficado bem sabida na aula, qual é o valor de ser realizada pelos pais? Paulo Oom recorda que, “essa não é a função dos pais, mas sim a tarefa que os filhos trazem da escola, pelo que se lhes deve dar essa responsabilidade que será essencial para tudo na vida. Os nossos filhos têm de aprender a ser responsáveis e a escola é um bom pretexto para isso, logo não devemos impedir essa função.”

 

O pediatra que esteve no programa Você na TV e apresentou as linhas gerais do seu livro, adianta que “os pais devem compreender a importância desse estatuto e assumir que, naturalmente terão de abdicar de algumas atividades quando assumem a parentalidade, pois “os filhos precisam do nosso tempo, da nossa atenção, correção, orientação e regras para que se desenvolvam de forma equilibrada, saudável e feliz.”

 

Os pais precisam de se reencontrar nesta sociedade agitada e assumir as suas prioridades, sob pena de arrastarem a infelicidade e de termos crianças cuja maior parte do seu tempo é passada em frente a um ecrã, seja de telemóvel, computador, TV ou outro, porque todos são ecrãs, todos roubam tempo, absorvem energia e reduzem as relações familiares. É preciso começar um novo ciclo pela saúde dos nossos filhos, sob pena de nos arrependermos mais tarde de não os termos colocado como prioridade nas nossas vidas.”

 

Especialistas em psiquiatria da Infância e da Adolescência da OM alertam que o “pleno exercício da função parental” é decisivo para “a vivência que a pessoa terá de si própria e do mundo e para a maneira como se colocará nas situações, agirá e reagirá”. Permitir que as crianças na primeira infância estejam diariamente na companhia da mãe ou do pai durante o tempo adequado “tem reflexos no desenvolvimento cerebral e na formação da identidade emocional e a presença de outros cuidadores, como os avós, não substitui os progenitores”, garante o pedopsiquiatra e responsável da OM Pedro Pires.

 

Com um relógio a marcar o tempo, Paulo Oom acredita que “só uma família que passe momentos agradáveis em conjunto, que permita a troca de saberes, a discussão de temas, o encontro de ideias e sensações poderá ser feliz. Por isso, o tempo que se dispõe para os filhos é a base de toda a relação.”

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